EXÍLIO
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena.
E os olhos iam com as águas.
Procuravam o Tejo nas águas do Sena
procuravam salgueiros nas margens do vento
e esse país de lágrimas e aldeias
pousadas nas colinas do crepúsculo.
Procuravam o mar.
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena
sentados
ausentes.
E havia uma rua. Havia uma casa.
Havia um cesto de cerejas sobre a mesa.
Havia um puro cheiro a pão. Uma varanda
e roupa branca a secar.
Havia uma Pátria.
E havia tecedeiras subterrâneas
tecendo em Coimbra a primavera.
Havia o António e uma guitarra
incendiada nos seus dedos.
E a minha irmã morava nesse ritmo.
A minha mãe bordava. (Às vezes creio que lembrava.)
Meu pai - esse partia extasiado
para o país da música. Havia uma avó
procurando sentir o que eu sentia.
Havia uma casa.
Havia uma Pátria.
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena
onde o vento cantava
uma canção estrangeira.
E os olhos iam com as águas.
Manuel Alegre, 30 Anos de Poesia, Ed. Círculo de Leitores, 1996
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