quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O Menino de Sua Mãe


O Menino de Sua Mãe

No plaino abandonado
que a morna brisa aquece,
de balas trespassado
duas, de lado a lado,
jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
alvo, louro, exangue,
fita com olhar langue
e cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
um nome e o mantivera:
“O menino de sua mãe”.
Caiu-lhe da algibeira
a cigarreira breve.
Dera-lha a mãe.
Está inteira a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
ponta a roçar o solo,
a brancura embainhada
de um lenço … deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece”)
Jaz morto,e apodrece.
O menino de sua mãe.

Fernando Pessoa

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